segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Poesia do dia: Mário de Sá Carneiro, mais uma vez

Caros alunos, demais leitores,


Trago mais uma poesia belíssima de Mário de Sá Carneiro para que possam deliciar-se com a intensidade de seu texto....


Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa, 
Um pouco mais de azul - eu era além. 
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... 
Se ao menos eu permanecesse aquém... 

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído 
Num baixo mar enganador de espuma; 
E o grande sonho despertado em bruma, 
O grande sonho - ó dor! - quase vivido... 

Quase o amor, quase o triunfo e a chama, 
Quase o princípio e o fim - quase a expansão... 
Mas na minh'alma tudo se derrama... 
Entanto nada foi só ilusão! 

De tudo houve um começo... e tudo errou... 
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... - 
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim, 
Asa que se elançou mas não voou... 

Momentos d'alma que desbaratei... 
Templos aonde nunca pus um altar... 
Rios que perdi sem os levar ao mar... 
ânsias que foram mas que não fixei... 

Se me vagueio, encontro só indícios... 
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas; 
E mãos de herói, sem fé, acobardadas, 
Puseram grades sobre os precipícios... 

Num impeto difuso de quebranto, 
Tudo encetei e nada possuí... 
Hoje, de mim, só resta o desencanto 
Das coisas que beijei mas não vivi... 


Um comentário:

  1. Poesia excelente. Serviu como inspiração para a musica "Quase" da banda mineira Pato Fu.

    ResponderExcluir