quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Poesia do Dia: John Keats



Caros alunos, demais leitores,


Hoje trago para vocês uma poesia de John  Keats.... poeta inglês, nascido em 1795.
Vejam que belíssima composição:


Hino à Tristeza (IV, 146 - 290)
                  
Ó Tristeza,
                   Por que tomas
A rubros lábios o matiz nativo da saúde?
                    Para dar rubores de donzela
                    Às moitas de roseiras brancas?
Ou tua mão de orvalho é a ponta das boninas?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
Ao olho do falcão o ardor brilhante?
                   Para dar luz ao vaga-lume
                   Ou, em noite sem lua,
Tingir, em praias de sereia, a inquieta água do mar?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
A uma plangente voz canções suaves?
                   Para dá-las, na noite fresca,
                   Ao rouxinol
Que possas escutar entre os serenos frios?

                   “Ó Tristeza,
                   Por que tomas
À alegria de maio o júbilo do coração?
                   Nenhum amante pisaria
                   A primavera em sua fronte,
Dançasse embora desde a noite até o raiar do dia,
                    - Nem flor alguma languescente,
                    Tida por santa para o teu recesso,
Onde quer que ele folgue e se divirta.

                    ”Ó Tristeza
                    Eu desejei bom-dia
E pensei deixá-la para trás, bem longe,
                    Mas satisfeita, satisfeita,
                    Ela quer-me ternamente;
É-me tão constante e tão amável:
                    Eu queria enganá-la,
                    Assim deixando-a,
Mas ah! ela é-me tão constante e tão amável.

“Sob as minhas palmeiras e do rio à margem
Eu sentei-me a chorar: em todo o vasto mundo
Não havia ninguém para indagar por que eu chorava:
                    Assim fiquei
A encher de lágrimas as taças do nenúfar,
                    Lágrimas frias como os meus temores.

“Sob as minhas palmeiras e do rio à margem
Eu sentei-me a chorar: que noiva enamorada,
Se a ilude um vago pretendente, ao vir das nuvens,
                    Não se oculta nem se vela
Sob escuras palmeiras e de um rio à margem?

“E ao sentar-me, por sobre os morros azul-claros
Veio um barulho de foliões: os riachos
Lançaram-se da cor da púrpura no vasto rio
                    - Era Baco e seu cortejo!
Falou a trompa ardente e vibrações de prata
Dos osculantes címbalos fizeram grande ruído
                    - Era Baco e seus parentes!
Como para vindima errante eles chegaram
De verdes folhas coroados, rosto em fogo;
Todos em dança delirante pelo ameno vale,
                    Para te afugentar, Melancolia!
Oh então, oh então passaste a simples nome!
E eu te esqueci, como o azevinho com suas bagas
Esquecem-no os pastores quando, em junho,
Os altos castanheiros tapam sol e lua:
                     - Precipitei-me na loucura!

“De pé, estava no seu carro o jovem Baco
Brincando com seu dardo de hera, quase que a dançar,
                     E rindo de soslaio;
- Fios de vinho carmesim manchavam
Seus nédios braços brancos e seus brancos ombros
                     Para com suas pérolas mordê-los Vênus:
E Sileno em seu asno perto cavalgava,
Alvejado com flores ao passar
                     E ebriamente bebendo aos grandes tragos.

“Joviais donzelas, donde vínheis? Donde vínheis?
Tantas e tantas e com tanto júbilo?
Por que deixastes os retiros desolados,
                     Os alaúdes e mais branda sorte?
- ‘Seguimos Baco! Baco a se mover veloz,
                     Conquistador!
Baco, o jovem Baco! mal ou bem suceda,
Dançamos diante dele pelos vastos remos:
Vem para cá, formosa dama, e junta-te
                     Ao nosso doido canto!’

“Donde vínheis, festivos Sátiros! donde é que vínheis?
Tantos e tantos e com tanto júbilo?
Por que deixastes vossos florestais abrigos,
                     Vossas nozes na fenda do carvalho?
- ‘Pelo vinho deixamos a árvore e as sementes;
Pelo vinho deixamos landa e giestas amarelas,
                      E os cogumelos frios;
Pelo vinho seguimos Baco pela terra;
Deus das copas sem fôlego, do júbilo chalrante!
- Vem para cá, formosa dama, e junta-te
                      Ao nosso doido canto!’
“Passamos largos rios e montanhas grandes
E, salvo quando Baco estava em sua tenda de hera,
Avante iam o tigre e o ofego do leopardo,
                      Com elefantes da Ásia:
Avante essas miríades - com canto e dança, zebras
Listradas e lustroso empino de cavalos árabes,
Aligatores com seus pés palmados, crocodilos
Levando no escamoso dorso, em filas, nédias,
Risonhas crianças imitando a grita dos marujos
E a valente labuta dos remeiros de galera:
Com fingidos remos e sedosas velas passam
                       Sem pensar em vento nem maré.

“Nas panteras em pêlo e jubas de leões montados,
Da retaguarda à frente eles percorrem as planícies;
Viagem de três dias num momento é feita:
E sempre, ao despontar do sol,
Com chuço e trompa caçam pelas selvas,
                       Em irascíveis unicórnios.

“Vi o Egito de Osíris ajoelhar-se
                       Ante a soberania da coroa de parreira!
Vi a tostada Abissínia erguer-se e então cantar
                       Ao som dos címbalos de prata!
O vinho que domina vi ardoroso penetrar
                       Na vetusta e feroz Tartária!
Abaixarem, os reis da índia, os cetros só de jóias
E atirar dos tesouros uma saudação de pérolas;
De seu místico céu o grande Brama geme
                       E os sacerdotes dele se lamentam,
A um relance do jovem Baco embranquecendo.
- A estas regiões eu vim acompanhando-o,
Opresso o coração, cansada - assim, deu-me o capricho
De errar nestas florestas tenebrosas
                       Sozinha, sem nenhuma companhia:
E tudo eu disse-te que podes escutar.

                        ”Jovem forasteiro!
                        Tenho viajado muito
Em busca do prazer por todas as regiões:
                        Ai! para mim ele não é!
                        Enfeitiçada, certo, eu devo estar,
Para perder em queixas minha virgem mocidade.

                        ”Vem pois, Tristeza!
                        Dulcíssima Tristeza! -
No colo nino-te como se filha minha!
                        Eu pensava deixar-te
                        E te iludir,
Porém no mundo inteiro és tu a quem mais quero agora.

                        ”Não há ninguém,
                        Não, não, ninguém a não ser tu
Que console uma pobre virgem tão sozinha:
                        És a mãe dela,
                        O seu irmão,
Seu companheiro e pretendente em meio à sombra.



Para saber mais, consultem: http://john-keats.tumblr.com/Poemasemportugu%C3%AAs de onde foi retirado o texto acima.

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